Uma das datas mais importantes do varejo será
afetada pelo coronavírus, mas os prejuízos podem ser amenizados
O Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) verificou que os cristãos ultrapassam 87% da população
brasileira. Não por acaso, a Páscoa, uma das principais datas da cristandade,
também representa um momento importante para varejo brasileiro. Tão importante
que os resultados das vendas de chocolate, peixe e vinhos, produtos
intrinsecamente ligados à festividade, são usados por economistas para aferir a
saúde da economia no país.
A Páscoa de 2020 não poderá servir como base de
comparação para nada. Com as pessoas confinadas em suas casas devido às
mediadas de combate ao coronavírus, muitas delas sem salário, é certo que haverá
um impacto nas vendas, principalmente de chocolate. “O chocolate é um produto
caracterizado pelo consumo em momentos de indulgência e sabemos que, por não
ser um item de primeira necessidade, acompanha o desempenho da economia”, disse
em janeiro o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Chocolate,
Amendoim e Balas (Abicab), Ubiracy Fonsêca. “A recomendação de isolamento
social freou uma série de iniciativas, eventos e lançamentos programados para o
período que provocou um giro de 180 graus no mercado”, comunicou a Abicab em
seu site.
As
previsões da indústria para o ano eram até favoráveis. Os indicadores prévios
de fevereiro, até a primeira semana de março, apresentavam uma tendência de
crescimento positiva de 55% na intenção de compra do consumidor se comparada
com 2017 e possivelmente igual ou superior ao ano de 2019.
Infelizmente, o efeito Covid-19 se impôs a qualquer
expectativa, cálculo ou projeção. Para o economista e presidente Instituto
Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR), Claudio
Felisoni de Angelo, o impacto na economia será muito desfavorável. “A pandemia
desestabilizou o país e a confiança do consumidor”, avalia.
Saída pela solidariedade e criatividade
Mas nem tudo está perdido. Se por um lado o coronavírus
arrefeceu os ânimos de alguns, ascendeu a chama da criatividade e da
solidariedade em outros. A Brasil Cacau, por exemplo, se uniu ao
Hemocentro da Santa Casa de São Paulo na ação solidária “Adoce a Vida de
Alguém”, e presenteou as primeiras duas mil pessoas que doaram sangue no local
com ovos de Páscoa.
Já a Nestlé olhou para dentro e decidiu na última
quinta-feira (26/03) suspender a demissão de seus funcionários, mantendo o
pagamento integral dos salários. Além disso, a empresa comunicou que trabalha
com parceiros do varejo para evitar que a cadeia de distribuição seja afetada
pela contaminação.
Quem está trabalhando diretamente com o consumidor também
está se mexendo. O supermercado Extra apostou nas condições de compra para
driblar a crise e vai parcelar em dez vezes sem juros as compras de ovos e
bolos de Páscoa, chocolates, bacalhau, azeites e vinhos portugueses.
Empresas menores apostam na parceria. A Evino, um dos
maiores e-commerces de vinhos do País, se uniu à Dengo Chocolates para oferecer
oito kits especiais com vinhos selecionados para harmonizações deliciosas. A
Ferrero se juntou ao aplicativo Rappi® para facilitar as entregas de seus
produtos na casa dos consumidores.
E, claro, muitos correram para o e-commerce. Foi o caso
da Hershey´s, que acelerou seu plano de digitalização e deu entrada em três
frentes: e-commerce próprio focado no consumidor final; plataforma voltada aos
pequenos varejistas; e presença em marketplaces de grandes
plataformas online como Americanas e Magazine Luiza.
Na sua campanha de Natal, o Pão de Açúcar vai convidar
seus clientes a descobrir novos jeitos de estarem juntos, como reuniões por
chamadas de vídeo, por exemplo. “São as pequenas felicidades que se tornam
gigantes”, diz o texto divulgado pela marca. Assim, as peças publicitárias
trazem ícones que remetem diretamente ao universo virtual, como botões de vídeo
chamadas e telas em mosaico de pessoas que permanecem juntas, mesmo que
distantes presencialmente.
O pequeno varejista
Para o pequeno varejista, no entanto, algumas saídas não
são possíveis, mas as que restam também devem passar pela criatividade. Falamos
com o consultor de varejo Marco Quintarelli para orientar o empresário que já
fez as suas encomendas e está apreensivo com o cenário geral. A mensagem é: não
fique parado!
Confira a entrevista!
Que impacto a crise do coronavírus terá sobre a Páscoa
2020?
A expectativa antes da pandemia era de um crescimento
dentre 6 e 10%, porém não tínhamos ainda um quadro de aumento considerável no
câmbio, nem as definições de quarentena, que provocou o fechamento de muitas
lojas de varejo, além da redução da movimentação de indivíduos e logística de
abastecimento. Ainda é uma incógnita como o mercado irá responder a esta
situação.
O que os varejistas podem fazer para minimizar esse
impacto?
Primeiro, seguir com os protocolos de segurança na
higiene pessoal e segurança alimentar contra a propagação do coronavírus. Isso
é fundamental! Além disso, garantir o abastecimento de gêneros e evitar o
aumento de preços da cadeia de abastecimento. Também é importante manter as
suas estratégias originais de ações de marketing.
Com relação aos empresários que já fizeram suas
encomendas, quais alternativas para minimizar eventuais prejuízos?
Cada varejista já tem uma noção do seu público. Sugiro
que revejam suas estratégias no sentido de seus investimentos x perdas, levando
em consideração que os consumidores estão em quarentena e comemorarão a Semana
Santa em casa. Esses clientes terão que ser abastecidos de gêneros de primeira
necessidade e de diversa categorias. É importante evitar grandes rupturas no
abastecimento e ter muito cuidado com os produtos sazonais de alto valor
agregado.
Como o varejista pode se preparar para ampliar suas
vendas nesse cenário?
Acho que um bom caminho são as promoções de preço e de “leve e ganhe”, onde o
consumidor se beneficia comprando um volume maior de unidades. Isso com
abordagem e degustação de ovos de chocolate, azeites, bacalhau (bolinho,
desfiado). Também vale priorizar a exposição de itens sazonais, trabalhar
espaços-chave como ilhas e pontas de caixa. Tudo isso auxilia num interesse
maior ao consumidor.
Como inovar em um momento desses?
A Páscoa tem um simbolismo único, mas pode ser
“aproveitado” de muitas formas. O momento agora é de união familiar. A
partir daí vale a criatividade do varejista. Ele pode focar em produtos para
quem vai confraternizar em casa. São diversos canais que podem ser utilizados
para aumento do ticket médio com os produtos sazonais ou de oportunidade.
Fonte/Texto: CDL-Campos dos Goytacazes