sexta-feira, 19 de março de 2021

SÃO PEDRO DA ALDEIA-A IDENTIDADE VISUAL DE SÃO PEDRO DA ALDEIA PERPASSA PELO ARTESANATO’, REVELA A ARTESÃ RITA BITTENCOURT

No Dia do Artesão, os artistas falam sobre a relevância de seus trabalhos no combate à depressão e a importância do setor para o município








Em local privilegiado, contrastando com o pôr do sol multicor, que se reflete nas águas calmas da Praia do Centro de São Pedro da Aldeia, os delicados trabalhos produzidos pelos artesãos na cidade, que celebram seu dia nesta sexta-feira (19), são expostos na Casa do Artesão. Quem produz as peças em madeira, inova nas cores e formatos em tecido e feltro, ou com materiais reaproveitados, fala sobre como o artesanato tem sido fundamental para superar a depressão. Parte importante da identidade municipal, o artesanato possui lugar de destaque nas vitrines para todos que visitam a Praça Hermógenes Freire da Costa. 

A representante dos artesãos na cidade, Rita Bittencourt, abraça a luta do setor há mais de trinta anos e enfatiza a relevância do artesanato para o município. “O artesanato possui a mais alta importância em nossa cidade, porque o turista quer levar não apenas uma lembrança, mas uma referência do nosso município. E nós estamos aqui para fornecer isso. A identidade visual de São Pedro da Aldeia perpassa pelo artesanato”, afirma a presidente da Associação de Artesãos aldeense.

O carinho pela cidade sobressai quando a artesã fala sobre suas origens. “Venho de uma família de artistas. Minha mãe, Dona Mirtes, era carnavalesca, e minha tia era uma grande artesã, que me ensinou várias técnicas, desde quando eu era bem pequena. Assim eu comecei, fui amando trabalhar com artesanato e hoje é a minha vida. Agrado a uns, desagrado a outros, mas faço de tudo pelo artesanato e para ajudar a quem precisa. Quem está começando na área agora, faço questão de ensinar e orientar. Sou nascida e criada em São Pedro da Aldeia. Eu amo esse lugar. Brigo, faço de tudo, mas não permito que alguém fale mal”.  

Homenagem 

A Secretaria Municipal Adjunta de Cultura também produziu uma homenagem aos artesãos da cidade, apresentando os cinco principais motivos para comemorar a data. “O produto que o artesão vende possui técnica de trabalho manual, que demanda tempo para a criação, transformando cada peça em algo único e singular. Além disso, o artesanato é terapêutico.

 Muitas das vezes, as pessoas são indicadas por médicos para poderem dedicar-se a esse ofício que auxilia na concentração, criatividade, coordenação motora, dentre outros benefícios. O artesanato pode ser um negócio para ganhar uma renda extra e ajudar nas finanças da casa. O artesão precisa estar sempre em busca de atualizações, pois a clientela gosta de novidades e de produtos com características próprias diferentes daqueles vendidos nas indústrias. Promove, ainda, a interação social conectando as pessoas através das experiências divididas e dicas. Parabéns para vocês que possuem mãos que criam, que pintam, que tecem e que transformam materiais simples em arte. Albert Einstein já dizia: ‘A criatividade é a inteligência se divertindo”.

Na voz dos artesãos

A superação e a luta contra a depressão fazem parte dos relatos de muitos dos artesãos. Dóris de Souza aponta que a arte não tem idade ao falar sobre como sua mãe, Neusa Pedrosa, iniciou na área. “Minha mãe tem 93 anos e o artesanato é algo fundamental na vida dela. Ela começou depois dos 80 anos, como uma terapia e é supermotivada até hoje”. Dóris é tesoureira na Associação de Artesãos aldeense, e narra a importância do segmento em sua vida. "Sou artesã, trabalho com artesanato a vida toda, e posso afirmar: o artesão é, antes de tudo, um curioso de marca maior. Eu preciso do artesanato como parte do meu meio de sobrevivência, mas também é algo que tenho um profundo prazer em realizar". 

Sobrinha do criador da Casa da Flor, Ana Ilidia relembra sua trajetória e conta como o trabalho de artesã a ajudou a superar o pesar pela perda de seu filho. “O artesanato faz parte da minha vida desde muito pequena. Um dia, vendo meu tio criar formas em louças quebradas, eu tive a ideia de fazer também e depois fui aprendendo novas técnicas. Levo comigo a bagagem de ser sobrinha de Gabriel Joaquim dos Santos e ser a única da família que faz artesanatos desde madeira ao capim dourado, entre outros. Hoje o artesanato é tudo na minha vida, pois preenche também um vazio que ficou no meu coração depois que perdi meu filho há cinco anos”. 

“O artesanato significa tudo para mim, pois foi através dele que consegui sair de uma depressão. Eu amo o que faço e não sei o que é viver sem o artesanato. Desejo que o ofício venha a ser mais reconhecido em nosso município”, contou Monica Martins, que teve sua fala reforçada pela artesã Olívia Paya: “Eu amo artesanato, não é o meu meio de vida, mas é a minha terapia. Até o meu médico não me deixa sair.

Sempre que estou com algum probleminha, pego minhas peças para fazer e mudo meu humor”. Tanagra Melro fala do trabalho por amor. “Eu trabalho com tecido, feltro, de tudo um pouco. Eu escolho continuar com o artesanato apenas pelo amor ao que faço”. A artesã Luciene Izidia dos Santos, conhecida por todos como Baiana, confirma a relevância do trabalho na Casa do Artesão em sua vida. “O artesanato é de grande importância no tratamento e cura da minha depressão. Me sinto muito bem na Casa do Artesão, é um ambiente onde me distraio e faço amizades. Faço patchwork e outros tipos de artesanato”. 

A paixão pelo artesanato também é o que move Alexandra Sampaio. “Sou artesã, adoro decorar meus trabalhos com rendas, fitas e tecidos. Entre outras peças, faço as tildas, bonecas de origem Norueguesa, que não possuem boca porque falam com o coração. São minha eterna paixão”. Maria Antônia Ramos completa: “O artesanato é muito importante para minha vida, é muito bom para a mente e adoro fazer meus bordados, trabalhar com tecidos e artigos de cozinha, e várias coisas. A Casa do Artesão é um lugar muito bom para se trabalhar e virou um ponto turístico da cidade.”

Bióloga e artesã, Leila Bianco fala sobre a influência da conscientização ambiental em seu trabalho. “Gosto muito do que eu faço, e desde o início, meu foco foi ressignificar materiais que seriam descartados, dando destino a peças que não teriam mais utilidade. Aos poucos, estou conseguindo despertar a consciência ambiental nos moradores, que ao invés de descartar itens como potes de vidro, CDs, entre outros, estão retornando ao stand para trazerem para mim". 

O casal Marcio Ferraz e Vanilsa Batista revelam que, além de meio de sobrevivência, o trabalho como artesãos os ajuda a se expressarem. “Para mim e para minha esposa o artesanato é uma forma de expressar o que vemos e o que sentimos. E depois disso o meio que temos para sobreviver e manter nossa família”. A artesã Bia Garcia, que trabalha com brinquedos de madeira, diz que faltam palavras para definir o sentimento que seu trabalho lhe traz. “Além de uma fonte de renda, o artesanato é um estilo de vida, que traz a valorização das pessoas locais. Quando vemos uma peça pronta, é uma satisfação tão grande que não dá para explicar. Trabalhando com artesanato de forma responsável, com sabedoria e dedicação é possível gerar sua própria fonte de renda.” 

Casa do Artesão 

Rita Bittencourt, presidente da associação da categoria, relata os desafios enfrentados. “Antes de ter essa estrutura da Casa do Artesão, nós rodamos a cidade. Fomos realocados para diversos locais, então em 1999, nós nos reunimos e fundamos uma associação, para podermos lutar por melhores condições de trabalho. Estou à frente da associação desde então, e foram muitas batalhas. Ganhamos essa estrutura apenas no final de 2008 e desde então, cuidamos do espaço, realizando os serviços de manutenção. A Casa do Artesão é um local fantástico, tanto pela localização, quanto pela estrutura em si”.

“Os visitantes amam o trabalho exposto aqui, eles elogiam muito. Ouvimos deles que muitos já estiveram em outras cidades da região e nunca viram um lugar como a Casa do Artesão em São Pedro da Aldeia, e com os nossos trabalhos. Acham isso aqui lindo e maravilhoso. Chego a me emocionar, porque as pessoas vêm de longe e reconhecem o trabalho dos artesãos de São Pedro da Aldeia, fico muito contente. Tem material meu que já foi para fora do país, como um turista da Itália que nos visitou e ficou encantando com os trabalhos daqui”. 

A artesã deixa também uma mensagem às mulheres. “Nós somos batalhadoras, e minha mensagem a todas as mulheres é que não desistam, continuem lutando por um espaço seja na profissão que for, porque nós merecemos exercer qualquer função que escolhermos.

Devido às medidas restritivas adotadas para prevenção da Covid-19, a Casa do Artesão está funcionando em esquema reduzido. “Temos muitos artesãos que já são idosos, mas que fazem questão de estarem presentes, então nos preocupamos em protegê-los. Estamos funcionando apenas nos fins de semana, de sexta-feira a domingo, das 18h às 22h”, explica Rita.

Fonte: Prefeitura de São Pedro da Aldeia-Assessoria de Comunicação Social

Texto: Aline Torres Guimarães