Guia de ações
Os recentes desdobramentos da Pandemia do COVID-19 pelo
mundo demonstraram um agravamento quase que exponencial do impacto esperado no
sistema de saúde, e na economia do mundo.
Um
relatório produzido e distribuído pela BCG (Boston Consulting Group)
no dia 20 de março, mostrou que a evolução do número de casos ao redor do
mundo, provavelmente forçará a maioria dos governos a decretarem situações
emergenciais de quarentena e lockdown para conter o contágio do vírus.
Avanços dos casos de COVID-19 pelo mundo | Fonte: BCG
E essas medidas já estão sendo tomadas como podemos ver
no quadro abaixo:
Respostas de diferentes governos ao COVID-19 pelo mundo |
Fonte: BCG
Outro fator agravante para situação, é que a previsão de
uma vacina com capacidade imunológica contra o Coronavírus segue incerta.
Sendo
que em conferência restrita para clientes no dia 20/03/2020, o Goldman Sachs
estimou que as primeiras unidades devem estar disponíveis para o público nos
EUA em algum momento entre o final de 2020 e começo de 2021, sendo que mesmo
nesse momento, ainda teremos o desafio de escalar a produção à nível global.
E o motivo disso ser um agravante é que analisando
historicamente, é comum que em casos como o do Corona, existam ondas de
contaminação em massa.
Comportamento de ondas em pandemias anteriores|Fonte:
BCG
Ou seja, mesmo que a atual onda de contágio seja contida,
é possível, que até uma vacina seja desenvolvida, novas ondas de crescimento
acelerado se repitam. Por isso, é seguro afirmar que neste momento não é
mais possível tratar a situação como sendo somente “mais uma gripe”
qualquer.E sendo assim, é dever de todo empreendedor e gestor
estruturar um plano sobre como agir para proteger seu negócio e seu time diante
dessa situação. Assim, preparamos um guia tático de ações que você pode
tomar no seu negócio para conseguir navegar pelo atual momento.
AVALIE A SUA ATUAL SITUAÇÃO
O primeiro passo é avaliar qual a sua real situação
atual. Reveja todos os seus contratos, seja de recebimento, quanto de
pagamentos, e avalie cada um deles. Divida o seu plano de ação em duas partes:
Para
os contratos que geram receita: aqui o seu objetivo é garantir que a
receita já contratada, realmente aconteça. Lembre-se que seus clientes também
estão sendo impactados pela crise, e vão tentar cortar custos.
Assim é importante que você avalie como reter esse
cliente para não perder receita e fluxo de caixa nesse momento. Entre as ações
possíveis se encontram:
Oferecer condições diferenciadas de
pagamento (parcelamento) para não necessitar suspender os contratos e
zerar o fluxo de pagamentos;
Oferecer serviços extras com custo marginal baixo para
reter o contrato (adicionar consultorias, serviços online, etc);
Adiantar pagamentos com algum
desconto (tente antecipar o recebimento futuro com algum desconto
para o seu cliente, assim você garante mais caixa para suportar o momento
atual).
Para os contratos que geram despesas: avalie todos
os seus contratos com fornecedores e busque renegociar prazos, e valores.
Comece analisando seus fornecedores com maiores margens, visto que eles
normalmente possuem maior flexibilidade para negociar. Além disso, priorize
contratos de maior valor, e ou que estão mais próximos, visto que eles gerarão
maior impacto no seu fluxo de caixa.
É importante nesse momento, porém, entender que a
depender das cláusulas dos contratos, o seu fornecedor poderá simplesmente não
aceitar as suas propostas de negociação.
Outro ponto relevante é tomar cuidado com os pequenos
fornecedores, que possuem menos margem ou fluxo de caixa. Lembre-se de que eles
também estão passando por um momento complicado e podem quebrar caso você os
pressione demais nesse momento. Assim, é recomendado que você avalie os termos
dos contratos antes de iniciar a negociação, e sempre conte com apoio do seu
advogado.
ASSUMA QUE AS COISAS SERÃO PIORES DO QUE O ESPERADO
Entenda que o fluxo de notícias e informações sempre
possuí um atraso. O número de infectados de hoje, é um reflexo de quem foi
infectado dias ou até mesmo semanas atrás, assim como o de fatalidades.
Assim, se você somente agir quando as notícias parecerem
realmente ruins, você já terá perdido um tempo precioso, e acabará entrando no
espiral da morte.
Talvez nesse momento você esteja pensando que a crise
durará alguns poucos dias, talvez 2 semanas, e dificilmente mais do que 1 mês.
Ou ainda que a sua receita caíra somente algo entre 10% e 20% ou 25% nesse
momento. Mas não se engane, o melhor cenário nesse momento é entrar no modo
sobrevivência.
Assuma que a crise durará por vários meses, pelo menos 3
ou 4, e que nesse período as suas receitas sofrerão um impacto de pelo menos 50%,
e a depender do seu setor, podem até mesmo ir a zero.
Seu planejamento deve te permitir sobreviver a cenários
extremos. Lembre-se: as perdas relacionadas a ser muito cuidadoso durante uma
crise, são sempre inferiores as de ser menos cuidadoso.
MONTE UMA WAR ROOM COM O TIME DE LIDERANÇA
Para enfrentar esse momento, o ideal é que o time de
liderança se comunique todos os dias revisando:
O atual cenário;
O que o negócio está fazendo (ações que foram
planejadas);
Qual está sendo o impacto de tais ações;
Quais novas ações precisam ser implementadas;
Idealmente essas reuniões devem acontecer diariamente até
que as coisas se resolvam, sendo sempre objetivas, e com foco em garantir a
sobrevivência do negócio. Não é momento de pensar em planos de expansão, mas sim,
em ações que te permitam atravessar o momento atual do mercado.
Além disso, você deve garantir que em cada reunião, serão
listadas ações a serem tomadas pelo time para ajudar o negócio.
PROTEJA SEU CAIXA
Como falamos anteriormente é altamente recomendável que
você considere um cenário pessimista onde o seu negócio verá quedas que podem
variar a algo entre 50 e 100% da receita. Porém, você dificilmente conseguirá
zerar seus custos, e por isso você dependerá das suas disponibilidades de caixa
para sobreviver.
Acontece que um relatório feito pelo JP Morgan, mostrou
que a maioria dos negócios possuí caixa disponível para somente 1 mês de
operação. Ou seja: se ele precisar ficar mais do que 1 mês sem gerar receita,
ele quebra.
Disponibilidade de caixa média para diferentes
negócios | Fonte: Relatório JP Morgan
Por isso, nesse momento é crucial que você avalie todas
as medidas possíveis para que você proteja o caixa do seu negócio.
Defina um valor mínimo: para começar, defina um valor
mínimo que você precisa ter em caixa, e comprometa-se a nunca ter menos do que
aquele valor no banco. Esse valor serve como um trigger para você tomar medidas
extremas, como demissões em massa no seu negócio.
Antecipe recebíveis: avalie todos os recebíveis que
o seu negócio possuí, seja em termos de contratos, ou recebíveis de cartão de
crédito com o seu processador de pagamentos. Lembre-se que em casos de crises
prolongadas a liquidez do mercado diminui progressivamente. Assim, é importante
que você tenha o dinheiro disponível na conta do banco para usar. Desse modo,
avalie antecipar o recebimento, mesmo que isso signifique deixar algum dinheiro
na mesa por conta das taxas de antecipação. E por falar nisso, dê preferências
a utilizar instituições financeiras sólidas nesse momento. É altamente provável
que milhares de pequenos negócios quebrem nesse momento, e com isso default em
suas dívidas. Nesse cenário bancos e demais instituições financeiras de menor
porte, podem ter problemas de liquidez, e caso você tenha dinheiro nessas
instituições pode ficar impossibilitado de acessar o seu capital.
Utilize todas as fontes de crédito e financiamento
possíveis: “Cash is king”, por isso, busque ter a maior quantia de
dinheiro em caixa possível, e isso incluí a realização de dívidas e
financiamentos. Ou seja, avalie linhas de crédito que você possa utilizar e
ative-as antes que elas sequem. Mas cuidado: a ideia não é que você utilize
esse dinheiro para pagar custos do dia a dia, distribuir dividendos, ou
expandir nesse momento. Mas sim para que ele sirva de reserva para casos
extremos. No cenário ideal, você não utilizará esse dinheiro, e poderá pagar
integralmente os empréstimos, somente com os juros do período em poucos meses.
ATUE COM O SEU TIME
Seu time também é parte importante da sua estratégia
nesse momento, e por isso existem algumas ações que você pode tomar.
Home Office: Um fator
que está ajudando milhares de empresas nesse momento é a adoção do regime
de Home Office como forma de não paralisar totalmente as suas
atividades. Nesse modelo o seu time continua trabalhando, porém, de casa, e nós
do G4 já até escrevemos um artigo sobre ele que você pode conferir https://gestaoquatropontozero.com/home-office-trabalho-remoto/ Porém,
um ponto que não abordamos naquele artigo, é sobre a negociação de benefícios
durante esse período, como a suspensão de vale transporte, vale refeição e vale
alimentação. Além disso, mesmo que a performance do time possa ser impactada
nesse momento, ainda é melhor algum nível de produção do que nenhum.
Renegociação de salários, férias, e suspensão de
contratos: Outro ponto relevante para esse momento é a possibilidade da suspensão
de contratos ou até mesmo renegociação de jornadas de trabalho com redução
proporcional do salário. Além disso, em algumas categorias, os próprios
sindicatos já estão se movimentando para liberar a antecipação e parcelamento
de férias individuais ou coletivas, bem como a flexibilização do banco de horas
individual. Fale com o seu advogado trabalhista para entender o que sua empresa
pode adotar nesse momento.
Cuidado com demissões: Para finalizar o ponto sobre
times nesse momento, é importante que você tome cuidado com demissões. Apesar
de parecer uma opção óbvia e fácil para o momento, lembre-se de que demissões,
especialmente no regime CLT, apresentam custos elevados e imediatos. Se você
optar por demitir uma pessoa do seu time hoje, será obrigado a pagar todos os
encargos trabalhistas como multa rescisória, aviso prévio e etc, a vista e no
curto prazo. Por isso recomendamos que essa seja a última opção a ser usada, e
sempre discutida com seu advogado trabalhista previamente.
ACOMPANHE NOVAS LEIS E MEDIDAS
Devido ao atual estado de pandemia, os governos estão se
movimentando e buscando aprovar medidas para ajudar todos a superarem os
desafios da crise. Com isso, novas MPs, Leis e similares estão sendo
promulgadas quase que diariamente, e sendo assim é importante que você
acompanhe tais movimentações. Abaixo separamos algumas que já foram
instauradas:
Postergação do Pagamento do Simples: de acordo com a
Resolução CGSN 152/2020 do Comitê do Simples nacional, o pagamento da DAS
referente ao simples das competências de março, abril e maio, que deveriam ser
pagas em abril, maio e junho, foram postergadas. Importante ressaltar de que as
mesmas ainda deverão ser pagas em datas futuras (outubro, novembro e dezembro),
e, portanto, isso deve ser considerado no seu planejamento de desembolso de
fluxo de caixa.
Atraso de débitos com o governo: avalie o impacto da
Medida Provisória nº 899/2019 (MP do Contribuinte Legal) no seu
negócio.
Recolhimento do FGTS e INSS: o Governo federal
anunciou que pretende autorizar que o recolhimento do INSS e FGTS da folha de
pagamento seja postergado por três meses a partir de março/2020 (poderão ser
postergados os recolhimentos em março, abril e maio de 2020). Importante
ressaltar de que deverão ser compensados no futuro. Importante: fale com
seu advogado trabalhista antes de tomar qualquer ação nesse sentido.
CONTE COM UM ADVOGADO
É importante que antes de tomar qualquer decisão com base nas medidas pulicadas pelo governo, você valide com o seu advogado se elas são aplicáveis par ao seu caso.
Fonte/Texto: CDL-Campos dos Goytacazes