Consumo por meio de
trocas e compartilhamento ganha espaço no cotidiano dos brasileiros
Coworking,
aluguel de brinquedos e hospedagem de animais de estimação são modalidades que
mais despertam interesse dos brasileiros; 74% já experimentaram, ao menos uma
vez, alguma forma de consumo colaborativo. Confiança ainda é barreira para 45%.
O consumo por meio de trocas e compartilhamento vem ganhando espaço no
cotidiano dos brasileiros. Enquanto alguns já adotam essas práticas, muitos se
veem como futuros adeptos. Um levantamento realizado em todas as capitais pela
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção
ao Crédito (SPC Brasil) mostra que, em um ano, aumentou de
68% para 81% o número de brasileiros que estão dispostos a
adotar mais práticas de consumo colaborativo no seu dia a dia nos próximos dois
anos, percentual que se mantém próximo em todas as faixas etárias e classes
sociais.
No geral, 74% das pessoas ouvidas já utilizaram ao menos uma
vez, ainda que sem frequência definida, alguma modalidade de
consumo colaborativo. Para muitos, o consumo compartilhado é um caminho sem
volta: 88% dos entrevistados acreditam que essas práticas vêm ganhando espaço
na vida das pessoas. E essa mudança de paradigma é
impulsionada, principalmente, pelas novas tecnologias. Para 85%, a
internet e as redes sociais contribuem para o
desenvolvimento de confiança entre os envolvidos nesse tipo de prática.
Na avaliação do educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, a
sociedade está, gradativamente, se reinventado em direção a um modelo mais
sustentável. “A economia compartilhada une dois propósitos, que é fazer o
orçamento render e contribuir para um mundo melhor, a partir do uso racional de
bens e serviços. A internet ampliou exponencialmente esse movimento, colocando
essas pessoas em contato por meio de sites e aplicativos. Ao mesmo tempo em que
parece inovador, consumir de forma compartilhada é uma volta às origens. Bem
antes da invenção do dinheiro, era pelo escambo que as pessoas obtinham
diversos itens”, explica o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.
Caronas, aluguel de residências e compartilhamento de
roupas são modalidades mais usadas; internet e redes sociais contribuem para
adoção dessas práticas
De acordo com o levantamento, as modalidades de consumo colaborativo com
maior potencial de utilização, ou seja, aquelas que os brasileiros mais
reconhecem que poderiam experimentar no futuro, são o coworking, que
consistente no compartilhamento do espaço físico de trabalho (61%), o
aluguel ou troca de brinquedos (59%) e a hospedagem de animais de estimação na
casa de terceiros (59%).
Entre os que já são adeptos de alguma prática, as mais comuns
são as caronas para ir ao trabalho, faculdade, passeios ou viagem (42%),
o aluguel de residências para curtas temporadas (38%), além do compartilhamento
e da locação de roupas (33%).
No geral, 91% dos usuários se dizem satisfeitos com relação às práticas
de compartilhamento que já utilizaram. Além disso, a maioria (70%) dos
entrevistados já refletiu sobre o tamanho da economia que a prática rende,
sendo que 40% consideram grande os recursos poupados.
A internet (55%) e as redes sociais (48%) foram os meios que mais
contribuíram para que os interessados conhecessem melhor as práticas de consumo
colaborativo. Há ainda um número relevante de 37% de pessoas que contaram com a
recomendação de amigos e conhecidos. “A economia colaborativa fortalece o senso
de comunidade, contribuindo para um estilo de vida mais sustentável. Trata-se
de uma relação de benefício mútuo, em que ambas as partes envolvidas na
negociação obtêm algum tipo de retorno, seja o lucro financeiro, a economia de
recursos ou a satisfação de uma necessidade”, analisa o educador financeiro
Vignoli.
Economia é o que mais atrai adeptos do consumo
colaborativo, mas 44% querem contribuir com a sociedade e meio ambiente
A pesquisa mostra que 98% dos brasileiros, sejam eles adeptos ou não,
enxergam alguma vantagem na prática do consumo colaborativo, sendo que as
principais são a oportunidade economizar dinheiro (45%), evitar o desperdício
(44%) e diminuir o consumo excessivo (43%). Outros aspectos positivos são
poupar energia e recursos naturais (34%) e poder ajudar outras pessoas (33%).
Quando a pesquisa se detém às pessoas que já experimentaram alguma
prática de consumo compartilhado, a chance de economizar dinheiro (57%) foi o que mais
pesou na decisão pessoal delas. Outros 44% recorreram a
economia colaborativa para contribuir com a sociedade e o meio ambiente,
enquanto 33% queriam ajudar as demais pessoas e 29% economizar tempo.
45% reclamam da falta de confiança e 42% entre os que
não dariam caronas têm receio de lidar com estranhos
O crescimento do consumo colaborativo no Brasil, contudo, ainda enfrenta
barreiras. Na avaliação dos entrevistados, as principais são a falta de
confiança entre as pessoas e o medo de serem passados para trás (45%),
a falta de informação (43%), o perigo de lidar diretamente com pessoas
estranhas (38%) e a ausência de garantias em caso de não cumprimento do acordo
(33%).Além disso, nem sempre é uma tarefa simples compartilhar roupas e outros
itens de uso pessoal, assim como a moradia ou o espaço de trabalho com
estranhos. São casos que exigem uma boa dose de desprendimento. No caso do
consumo compartilhado, os maiores índices de rejeição, ou seja, aqueles itens
que os entrevistados possuem, mas jamais dividiriam com outros, estão o
compartilhamento de moradia, também conhecido como cohousing (41%), o aluguel
de roupas (33%) e de residências para temporadas (32%).
Entre essa parcela que rejeita a possibilidade de compartilhar algum
item pessoal, a pesquisa revela que o medo de lidar com estranhos é
a principal barreira para dar caronas (42%), assim como para
compartilhar o local de moradia (38%). O fato de não gostarem da sensação de
dividir o próprio espaço com terceiros é também o que impede o compartilhamento
de moradias (26%). Já o receio de que o bem emprestado seja danificado é fonte
de preocupação no caso do aluguel de veículos (44%), bicicletas ou patinetes
(40%). A incerteza de que as pessoas não devolvam o item emprestado é o que mais
afasta as pessoas do aluguel ou compartilhamento de brinquedos (29%), por
exemplo.
“O medo do desconhecido continua sendo um problema a ser superado na
economia compartilhada, mas assim como a tecnologia proporciona a aproximação
de pessoas, ela também vem se aprimorando no quesito segurança. Hoje, muitos
sites e aplicativos deste mercado já contam com filtro de reputação, que avalia
tanto quem presta o serviço quanto o cliente, seguindo uma série de atributos
como pontualidade na devolução, cuidado na utilização, estado de conservação e
pagamento. Trata-se de uma interação que exige uma confiança mútua”, avalia o
educador financeiro.
62% compraram algum produto usado nos últimos 12
meses; livros, móveis e automóveis lideram ranking
Outro aspecto investigado pela pesquisa é o mercado de compra e venda de
usados, que é uma alternativa para gastar menos ou ganhar uma renda extra. De
acordo com o levantamento, em cada dez consumidores, seis (62%) compraram
algum produto usado nos últimos 12 meses. Dentre esses
clientes, a maioria (96%) ficou satisfeita com a compra.
A tecnologia também vem facilitando as formas de contato entre
compradores e vendedores de produtos de segunda-mão, permitindo negociações
rápidas e seguras. A internet é o meio que mais impulsiona esse tipo de compra,
principalmente por meio dos aplicativos ou sites especializados (69%) e redes
sociais (54%). Outros 46% chegaram a esse mercado por meio de amigos ou
conhecidos.
Em alguns casos, é tão mais vantajoso adquirir um produto usado, que
essa é a primeira opção do consumidor. De acordo com a pesquisa, 79% dos
entrevistados costumam verificar a possibilidade de adquirir um item usado em
bom estado antes de comprar um novo. Os que não têm esse hábito somam 21% da
amostra. Os itens que ganham destaque são os livros (51%), móveis (50%),
automóveis (49%), celulares (49%), eletrônicos (46%) e eletrodomésticos (46%).
“Em um período em que muitos enfrentam dificuldades financeiras, essa pode ser
uma saída para quem deseja fazer compras a preços acessíveis ou vender objetos
que apenas ocupam espaço em casa”, analisa Vignoli.
Metodologia
A pesquisa ouviu 837 consumidores acima de 18 anos, de ambos os gêneros,
de todas as classes sociais e que residem nas 27 capitais do país. A margem de erro
é de no máximo 3,4 pontos a um intervalo de confiança de 95%.
Fonte/Texto:
CDL-Campos dos Goytacazes