Três em
cada dez inadimplentes vão cortar orçamento e 24% vão procurar bicos
75% comprometeriam pagamento de contas
básicas se usassem seus rendimentos para zerar dívidas. Estudo mostra que
perfil do inadimplente brasileiro é formado por mulher, de 38 anos, com ensino
médio e que recebe, em média, pouco mais de R$ 2.300; 55% planejam pagar dívida
nos próximos três meses.
Quando a dívida já não cabe mais no bolso e as chances de pagá-la ficam
cada vez mais distantes, procurar o credor para renegociar o débito acaba sendo
a alternativa mais utilizada. Uma pesquisa feita em todas as capitais pela
Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção
ao Crédito (SPC Brasil) revela que entre os consumidores inadimplentes que
pretendem regularizar sua situação pelos próximos três meses, 35% querem
tentar um acordo com o credor para parcelar o valor do
débito. No total, 55% dos consumidores com contas atrasadas acreditam
que terão condições de regularizar as dívidas, sendo que 35% pretendem pagar
integralmente e 16% parcialmente. Por outro lado, 45% dos
inadimplentes não se veem em condições financeiras de
quitar suas dívidas em um horizonte de três meses.
Exemplo dessa dificuldade, é que caso utilizassem seus rendimentos para
zerar as dívidas, 75% dos entrevistados comprometeriam o pagamento de
contas básicas. Somente 21% garantem ter uma mais situação confortável diante
desse cenário.
Na avaliação do educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli, é importante
analisar a dívida e as próprias condições financeiras antes de propor um
acordo. “A primeira coisa a fazer é traçar um diagnóstico de receitas e
despesas. O segundo passo é cortar todos os gastos desnecessários, dando
atenção às dívidas com juros mais pesados, como cheque especial ou cartão de
crédito. Renegociar com o credor é uma opção que vale a pena tentar. Outra
alternativa é trocar a dívida por uma linha de crédito mais barata ou tentar a
portabilidade em outro banco. De qualquer maneira, o consumidor deve estar
preparado, tendo em mente o quanto deve, já considerando os juros, e quanto ele
consegue pagar por mês para sair dessa situação”, orienta Vignoli.
Três em cada dez inadimplentes vão cortar orçamento
para pagar dívidas em atraso e 24% vão procurar bicos
A resistência em cortar despesas e em rebaixar o padrão de consumo são
alguns dos erros mais comuns para quem precisa sair do vermelho. No entanto, a
pesquisa revela que fazer cortes no orçamento é a segunda alternativa
mais citada pelos inadimplentes que planejam regularizar
suas dívidas (28%), inclusive com um aumento de nove pontos percentuais na
comparação com o ano passado.
A terceira estratégia mais citada é recorrer a um bico ou trabalho
extra (24%), seguida dos que que esperam contar com o pagamento
de empréstimos feitos a terceiros (12%). Outras opções que cresceram em um ano
são vender um bem (9%) e substituir a dívida por um empréstimo que cobra juros
mais baixos (4%).
Para quem vai economizar para conseguir pagar as dívidas, os principais
cortes deverão ser nas despesas com lazer (33%), deixar de
comprar roupas e calçados (28%), diminuir ou eliminar alimentação fora de casa
(27%) e evitar gastos com produtos de beleza (20%).
“Uma atitude importante para quem quer organizar a vida financeira é
reconhecer a necessidade de mudar hábitos que colocam o bolso em risco e se
reeducar financeiramente. Dois graves erros são subestimar os pequenos gastos,
que passam despercebidos no dia a dia e ceder às compras por impulso”, analisa
o educador financeiro José Vignoli.
Na avaliação dos entrevistados, os principais empecilhos para quitar as
dívidas em atraso e colocar a vida financeira em ordem é não sabe de onde tirar
dinheiro para pagar as dívidas (28%), o fato de estarem desempregados (23%) e a
queda na renda (20%).
Para 58%, dívidas atrasadas superam metade da renda;
aluguel e plano de saúde são contas mais priorizadas
Segundo a pesquisa, em cada dez inadimplentes, seis (58%) possuem
dívidas em atraso que superam ao menos metade dos seus rendimentos
mensais e para 23%, as dívidas igualam ou extrapolam o seu salário.
Considerando o pagamento de contas e prestações que não necessariamente
estejam em atraso, 60% estão com pelo menos metade da própria renda
comprometida com o pagamento desses compromissos, fato que
ilustra a dificuldade que muitos enfrentam em colocar a vida financeira em
ordem. No geral, os principais compromissos financeiros dos inadimplentes,
estejam eles em dia ou não, são as contas de água e luz (59%), parcelas de
cartão de crédito (57%) e crediário em lojas (52%). Há ainda 48% que possuem
contas de telefone e 33% que pagam internet e TV por assinatura.
A pesquisa ainda revela que a escala de prioridades do consumidor é
encabeçada pelas despesas consideradas mais importantes para a vida
diária. Os compromissos financeiros que os inadimplentes mais pagam em dia são o
aluguel (84%), plano de saúde (82%) e condomínio (78%). Outras
contas que os inadimplentes têm procurado manter quitadas na maior parte das
vezes são as com TV por assinatura e internet (73%) e também contas de água e
luz (72%).
Empréstimo é compromisso que mais gerou negativação;
faturas de cartão de crédito estão atrasadas, em média, há um ano e oito meses
Os empréstimos em bancos ou financeiras (69%),
os crediários em lojas (68%) e as faturas atrasadas de cartão de crédito (67%)
despontam como os tipos de contas que mais deixaram os inadimplentes com o
‘nome sujo’. Há ainda 52% de pessoas que ficaram nessa situação após entrarem
no cheque-especial ou por atrasarem o pagamento do financiamento de automóvel.
A pesquisa investigou também os compromissos que estão em atraso, mas
que ainda não geraram uma negativação do CPF. Nesse caso, ganham destaque os
empréstimos com amigos e parentes (33%) e as mensalidades escolares (26%).
Para quem ficou inadimplente por causa do mau uso do cartão de crédito
ou do crediário, os itens mais adquiridos foram roupas, calçados e
acessórios (45%), gastos em supermercados (25%), aquisição de
eletrodomésticos (18%), eletrônicos (17%) e smartphones (17%).
O levantamento demonstra que o endividamento costuma ser um processo
gradativo, em que o descontrole financeiro vai produzindo efeitos cumulativos
no tempo. Entre as contas de maior tempo médio de atraso, o destaque fica com
os empréstimos em bancos e financeiras, que estão atrasadas, em média, há
23 meses. Depois aparecem cheque especial (22 meses sem pagar),
crediário em lojas (21 meses em atraso) e faturas do cartão de crédito (20
meses em aberto).
Perfil do inadimplente: mulher, de 38 anos, com ensino
médio e que recebe, em média pouco mais de R$ 2.300
A análise socioeconômica da pesquisa revela que a concentração de
inadimplentes no Brasil é expressivamente maior entre os brasileiros das
classes C, D e E (94%), sendo que em média, cada
inadimplente recebe R$ 2.335,32 por mês. Além disso, oito em
cada dez (79%) brasileiros com contas em atraso ganham no máximo três salários
mínimos.
No geral, 58% dos inadimplentes no Brasil são mulheres, ao passo que 42%
homens. A idade média é de 38 anos e tendo em sua maioria, mais
de três pessoas morando na mesma casa, predominantemente na região Sudeste
(46%) e Nordeste (24%). Outra constatação é que 80% dos inadimplentes têm no
máximo o ensino médio completo e outros 20% concluíram ou estão cursando o
ensino superior.
“Embora mais presente nas classes de menor poder aquisitivo, a
inadimplência e o descontrole financeiro não são uma exclusividade das classes
mais baixas. Em geral, quem recebe salários altos também tem acesso mais fácil
ao crédito e, consequentemente, mais chances de se endividar. Ganhar muito, mas
gastar além de suas possibilidades é um típico exemplo de má gestão
financeira”, alerta Vignoli.
Metodologia
A pesquisa ouviu 600 consumidores com contas em atraso há mais de três
meses acima de 18 anos, de ambos os gêneros, de todas as classes sociais e que
residem nas 27 capitais do país. A margem de erro é de no máximo 3,4 pontos a
um intervalo de confiança de 95%.
Fonte/Texto: CDL-Campos dos Goytacazes