20% dos brasileiros
utilizaram cheque especial no último ano
O cheque especial é uma das modalidades de crédito mais
caras do mercado, mas nem por isso o consumidor brasileiro tem evitado usar
esse limite disponível na conta, que muitas vezes é fácil de ser obtido. Uma
pesquisa feita em todas as capitais pela Confederação Nacional de Dirigentes
Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela
que, em cada dez brasileiros, dois (20%) recorreram ao cheque especial em
algum momento nos 12 meses anteriores ao levantamento, percentual próxima aos
17% observados na mesma pesquisa do ano passado.
O levantamento ainda mostra que a maior parte (40%)
dos usuários do cheque especial tem o hábito de utilizar o saldo extra
todos os meses. Esse comportamento é ainda mais comum levando em conta as
pessoas da classe C, D e E (48%). Outros 30% de usuários recorreram ao cheque
especial a cada dois ou três meses e 27% pelo menos três vezes no ano.
O cheque especial é uma linha de crédito pré-aprovada,
oferecida pelos bancos e, geralmente, utilizada de forma automática pelo
cliente quando não há saldo suficiente para cobrir os débitos em sua conta
bancária. Em média, os juros cobrados são de 320% ao ano, superiores inclusive
ao cartão de crédito rotativo, segundo dados oficiais do Banco Central.
Para o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli,
por causa dos juros elevados, o cheque especial só deve ser utilizado em
ocasiões emergenciais e durante períodos curtos. “É um erro incorporar o limite
do cheque especial como parte da renda. Essa ilusão pode levar o consumidor a
gastar mais do que o orçamento permite e ver sua dívida se transformar em uma
bola de neve muito difícil de ser paga”, alerta Vignoli.
68% dos usuários de cheque
especial não solicitaram crédito ao banco; 25% usaram limite para pagar contas
ou lidar com imprevistos
De acordo com a pesquisa, apenas 24% das pessoas que
usaram o cheque especial no último ano solicitaram o crédito de forma
espontânea. A maior parte (68%) disse ter recebido o limite de forma automática
ou a partir de uma oferta, sem a solicitação direta ao banco ou instituição
financeira. Outra constatação é que somente três (33%) em cada dez usuários do
cheque especial buscaram outras alternativas de crédito para conseguir o
dinheiro que precisava antes de recorrer ao limite fornecido pelo banco.
A pesquisa revela que entre as motivações para recorrer a
esse saldo extra, há um misto de falta de controle das finanças e eventos
inesperados. Os imprevistos com doenças ou compra de medicamentos (25%) e o
descontrole no pagamento das contas (25%) foram as principais razões do
uso do limite do cheque especial. Há ainda pessoas que apelaram a esse dinheiro
porque estavam com pagamentos de contas a vencer (23%) ou porque foram
surpreendidas com a necessidade de manutenção do automóvel ou moto (18%).
Outro dado que inspira preocupação é que 38% dos
entrevistados não analisaram as tarifas e juros envolvidos,
principalmente, porque precisavam do valor, independentemente dos custos (25%),
não perceberam que entraram no cheque especial (7%) ou por falta de interesse
(6%). Parte significativa (43%) desconhece o valor dos juros e taxas que os
bancos cobram no cheque especial e mais de um terço (34%) ficou com o
‘nome sujo’ por não honrar com o pagamento.
Para Vignoli, o mau uso do cheque especial pode iludir o
consumidor, que acaba pagando caro pela facilidade, praticidade e
disponibilidade do recurso. “O consumidor tem de ter clareza de que o dinheiro
incorporado ao seu saldo bancário não é seu. Se usar, terá de devolver, e
pagando juros altíssimos, afinal, se trata de um tipo de empréstimo. Muitas
vezes, as pessoas acabam sendo impulsivas ou ingênuas em aceitarem uma oferta
sem analisar suas condições de pagamento”, alerta o educador do SPC Brasil.
21% dos que têm empréstimos em bancos ou financeiras usam
dinheiro para despesas básicas; entrevistados têm, em média, 17 parcelas a
pagar
Outra modalidade também investigada pela pesquisa foram
os empréstimos feitos em bancos ou demais instituições financeiras. A
constatação é que a maior parte dessas pessoas pega dinheiro emprestado para
cobrir desarranjos orçamentários. Em 21% dos casos, o dinheiro serviu para
honrar compromissos com despesas básicas, como água, luz, telefone, condomínio
e estudos, por exemplo. O mesmo percentual de 21% foi para quitação de outras
dívidas, como empréstimos, cartão de crédito e prestações de compras. Em
seguida aparecem a reforma da residência (16%), viagens (16%) e pagamento de
exames, remédios ou consultas médicas (12%).
De modo geral, 18% dos consumidores
brasileiros contraíram algum empréstimo pessoal em banco ou financeira nos
12 meses anteriores à pesquisa e 14% fizeram uso do crédito consignado,
modalidade em que as parcelas são descontadas diretamente do salário ou da
aposentadoria. Em média, os entrevistados possuem dois empréstimos e estão com
17 parcelas a pagar.
Assim como no caso do cheque especial, o uso do
empréstimo deve ser feito com cautela, afirma Vignoli. “Contratar um empréstimo
pode ser a decisão certa quando o consumidor tem planos de longo prazo e está
preparado para assumir um compromisso financeiro por vários meses sem
desequilibrar o orçamento. Mas em muitos casos, antes de buscar um empréstimo,
o mais adequado é tentar uma renda extra ou diminuir ao máximo as despesas
mensais, cortando gastos supérfluo”, explica.
Bancos tradicionais respondem por 60% dos
empréstimos; 19% não analisaram juros e 52% consideram taxas abusivas
No caso dos empréstimos, as instituições financeiras
convencionais ainda representam a maior parte dos credores, embora as fintechs e
os bancos digitais já ocupem um espaço relevante. Em cada dez entrevistados que
utilizaram alguma modalidade de empréstimo no último ano, seis (60%)
recorreram aos bancos tradicionais. Já 17% optaram pelo cartão de crédito, 13%
buscaram financeiras, 11% os bancos digitais e 8% as fintechs de
crédito.
A pesquisa mostra que um quarto (25%) dos
entrevistados não tomou a iniciativa de contratar um empréstimo, mas
recebeu uma proposta do banco ou financeira. Os que fizeram a solicitação de
forma proativa formam 55% da amostra.
Um dado que desperta preocupação é que nem todos os
consumidores que recorreram aos empréstimos deram a devida atenção às
tarifas: 19% não analisaram o peso dos juros e das taxas cobradas nas
operações contra 76% que agiram corretamente, e foram mais cuidadosos nesse
sentido. Para 52%, as taxas são altas ou abusivas e 36% chegaram a ficar
inadimplentes por atrasos nas prestações.
De acordo com a pesquisa, 28% dos entrevistados
reconhecem negligenciar o controle do pagamento das prestações dos
empréstimos, seja fazendo-o apenas de cabeça (17%) ou simplesmente ignorando a
tarefa (11%). Já 68% fazem um controle adequado, principalmente por meio de
anotações no papel (29%), planilhas (20%) ou aplicativos no celular (19%).
Metodologia
A pesquisa entrevistou 805 consumidores, sendo que
continuaram a ser entrevistados somente aqueles que disseram ter utilizado
cheque especial ou empréstimo. Todos os entrevistados são acima de 18 anos, de
ambos os gêneros, todas as classes sociais e residentes das 27 capitais. A
margem de erro é de no máximo 3,4 pontos percentuais para uma margem de
confiança de 95%.
Fonte/Texto: CDL-Campos dos Goytacazes