Segundo pesquisa, poucos
são aqueles que realmente têm atitudes sustentáveis
Embora o brasileiro reconheça que o
consumo inadequado de recursos naturais cause impactos ao meio ambiente, poucos
são aqueles que realmente têm atitudes sustentáveis no dia a dia. Uma pesquisa,
realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo
Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em todas as capitais do país,
mostra que a maioria dos
brasileiros (97%) possui alguma dificuldade em adotar práticas de consumo
consciente.
Os principais entraves mencionados pelos entrevistados
para a falta de hábitos mais responsáveis são alto preço
dos produtos orgânicos (37%) e os obstáculos em separar o lixo para a
reciclagem (32%). Além disso, 30% reconhecem não conseguir
reduzir a quantidade de lixo gerado e outros 30% enfrentam barreiras em engajar
os vizinhos nessa prática.
De acordo com o levantamento, o brasileiro ainda é
considerado ‘consumidor em transição’, ou seja, mais da metade (58%) mantém
práticas de consumo consciente, mas em frequência aquém da desejada. Já três em
cada dez (29%) se encaixam como ‘consumidor consciente’, enquanto 13% somam os
pouco ou nada conscientes.
Os dados fazem parte do Indicador
de Consumo Consciente (ICC), que em 2019 atingiu 73%, mantendo-se estável em relação ao ano passado,
ao registrar o mesmo percentual. O ICC pode variar de 0% a 100%: quanto mais
próximo de 100% for o índice, maior é o nível de consumo consciente.
41%
associam o consumo consciente a atitudes que evitam o desperdício e as compras
desnecessárias
O estudo também indica que no Brasil há uma visão de
consumo consciente mais voltada ao aspecto financeiro: para 41%, ser sustentável significa adotar hábitos
que evitem o desperdício e as compras desnecessárias. Ao mesmo
tempo, 32% entendem a necessidade de se refletir sobre as consequências de uma
compra antes de concretizá-la, sabendo que o consumo produz impactos sociais,
ambientais e econômicos para todos. Outros 14%, por sua vez, pensam em atitudes
que tem como foco economizar dinheiro, enquanto 11% correlacionam a ação de
economizar com a preservação do meio ambiente.
Em uma escala de 1 a 10 de auto
avaliação sobre a prática de consumo consciente no dia a dia — em que 1
corresponde a “nada consciente” e 10 significa “muito consciente” —, os entrevistados atribuíram a si mesmos a nota
média de 7,7. “Embora muitos não consigam definir corretamente
o que vem a ser o consumo consciente, a percepção em relação às próprias ações
no dia a dia é positiva. Apesar disso, a pesquisa sugere que, sob alguns
aspectos, essa autoimagem não corresponde totalmente à realidade”, explica a
economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Para
75% dos consumidores, produtos fabricados por empresas `socialmente
responsáveis´ pesam na hora da compra
Há um consenso entre os consumidores brasileiros de que as
consequências das mudanças climáticas e do consumo desenfreado são um problema
que diz respeito a toda a sociedade. Para 98%, o
consumo inadequado ou excessivo dos recursos naturais do planeta gera impactos
no meio ambiente, entre os quais 50% mencionaram mudanças
climáticas, 45% a falta de água e 42% a poluição e a baixa qualidade do ar.
Seis em cada dez entrevistados (60%) acreditam que o
consumo não consciente deverá atingir a todos. Além disso, 92% acham que a
preservação do planeta a partir de atitudes concretas de consumo consciente
depende de toda a população. Já 46% consideram que a principal vantagem em
adotar práticas sustentáveis é ter a satisfação em fazer algo positivo para o
futuro das próximas gerações, enquanto 43% citaram a sensação de dever cumprido
e de estar fazendo o que é correto.
Outro dado revela que para três em cada quatro
consumidores ouvidos (75%) pesam
na decisão de compra produtos fabricados por empresas que investem em projetos
sociais ou ambientais. E para 89%, um aspecto bastante
valorizado é conhecer a origem dos produtos que são consumidos, em especial os
industrializados (45%), os animais (39%) e os orgânicos (37%). Considerando a
importância da origem dos itens que vão à mesa do consumidor, mais da metade
(53%) mencionou querer assegurar que os alimentos farão bem à saúde. Já 47%
disseram buscar mais segurança sobre a qualidade dos produtos.
Oito
em cada dez entrevistados sentem-se prejudicados com falta de atitudes
sustentáveis adotadas por outras pessoas
Para a grande maioria, comportamentos pouco sustentáveis
adotados por terceiros fazem com que o consumidor se sinta pessoalmente
afetado. Oito em cada dez entrevistados (79%)
destacaram que ao ver outras pessoas desperdiçando água, energia ou mesmo
comprando produtos sem se preocupar com o meio ambiente se sentem prejudicados.
Em contrapartida, 15% não ligam para esse tipo de comportamento porque o mais
importante é fazer a sua parte.
Ainda segundo a pesquisa, as boas práticas servem de
estímulo para a maioria dos entrevistados. O exemplo de um colega, vizinho ou
parente economizando água e energia, que pode evitar o consumo exagerado, deixa
70% felizes por perceberem que os outros estão fazendo a parte deles tanto
quanto os entrevistados. Além disso, 21% se sentem estimulados a fazer a mesma
coisa por serem inspirados a seguir boas atitudes. Por outro lado, 6% admiram
quem faz a sua parte, mas reconhece não conseguir fazer o mesmo.
Praticamente a totalidade da amostra (98%) concorda que é
importante adotar atitudes como forma de mudar o próprio estilo de vida e
alcançar um mundo mais equilibrado e sustentável. E a principal ação que deve
ser tomada é criar o hábito de se planejar financeiramente, fazendo listas para
evitar as compras por impulso (45%). Na opinião dos entrevistados, também é
preciso reutilizar e reciclar, dando novas utilidades a materiais que seriam
descartados (45%), refletir antes de comprar, pensando bem nas necessidades
(43%) e evitar adquirir produtos piratas ou contrabandeados (41%).
Apagar
as luzes antes de sair de um ambiente e preferir produtos com embalagens
recicladas estão entre hábitos mais recorrentes
O Indicador
de Consumo Consciente (ICC) acompanha as mudanças nos
hábitos de compra e outras ações cotidianas dos brasileiros ao longo do tempo,
considerando os aspectos financeiros, ambientais e sociais. Quando se
observa os principais comportamentos ligados à preservação do meio ambiente,
com relação ao uso racional de energia elétrica, os hábitos mais presentes no
cotidiano dos consumidores são apagar as
luzes de ambientes que não estão sendo utilizados (96%) e
controlar o valor das contas do mês (93%). Já considerando o meio ambiente de
forma mais ampla, se destacam os hábitos de doar ou trocar algum item antes de
jogá-lo fora (89%) e dar
preferência a produtos cujas embalagens são recicláveis (83%).
Entre as práticas de uso consciente do dinheiro, o
levantamento destaca a pesquisa de
preços (90%) e uso de produtos antigos ou consertá-los em
vez de comprar algum item novo (89%). Quanto ao pilar
responsabilidade social, 92% dos
entrevistados disseram incentivar as pessoas da casa a economizar água e luz,
enquanto 88% mencionaram preferir passar o tempo livre com a família ou amigos
do que passear em shoppings ou fazer compras.
“É possível notar que boas práticas já estão no radar do
consumidor brasileiro, embora de forma ainda tímida. Um longo caminho ainda
precisa ser percorrido para que as pessoas entendam que suas atitudes
individuais produzem efeitos coletivos e, principalmente, cumulativos na
sociedade. No dia a dia, o primeiro ponto a considerar deve ser a própria
necessidade da compra, já que é comum o acúmulo de bens, muitos dos quais nem
mesmo chegarão a ser utilizados”, orienta o educador financeiro do SPC Brasil,
José Vignoli.
Metodologia
Foram entrevistados 837 consumidores, nos meses de maio e
junho, nas 27 capitais brasileiras, acima de 18 anos, de ambos os gêneros e de
todas as classes sociais. A margem de erro é de 3,4 pontos percentuais para uma
confiança de 95%.
Fonte/Texto:CDL-Campos dos Goytacazes