segunda-feira, 2 de junho de 2025

O AUMENTO DO IOF E A REFORMA ADMINISTRATIVA

Temas mais abordados  na última semana









O jornal O Estado de São Paulo, através de seu portal-seção OPINIÃO DO ESTADÃO-, por dois dias seguidos se ocupou dos desdobramentos do aumento do IOF, proposto pelo Governo Federal.

Em 31 de maio, mencionou que a equipe econômica, admitiu que o aumento serviria somente para elevar a arrecadação e evitar o corte em programas sociais.

Criticou a gestão do Presidente da República, mencionando que a derrubada do decreto que propõe o aumento do Imposto, acarretará impacto direto em programas prioritários como Farmácia Popular e Minha Casa Minha Vida. Com isto, se tornava evidente que o governo não tem como financiá-los com a receita regular.

O impacto já havia ocorrido. Na noite de 30 de maio o Governo publicou decreto que bloqueou 31,3 bilhões, no orçamento deste ano.

A maior contenção foi no Ministério das Cidades: 4,288 bilhões. O decreto não define claramente quais programas serão afetados. Farmácia Popular e Minha Casa Minha Vida, estão vinculados ao Ministério das Cidades.

Ontem, 01 de junho, na mesma seção, menciona que: “se há um aspecto positivo a ser destacado na crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é a admissão da inviabilidade do Orçamento Geral da União pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Após se reunir com os líderes da Casa na quinta-feira passada, o deputado afirmou haver uma consciência no Legislativo de que o Orçamento “não sobreviverá da forma que está”.

De acordo com a publicação, o presidente da Câmara declarou que a casa defendia medidas mais estruturantes, citando a revisão de isenções fiscais, a desvinculação das receitas e a necessidade de uma reforma administrativa, temas que até então eram “proibitivos” na Câmara.

Teceu elogios a iniciativa do presidente da Câmara, admitindo, entretanto, que seria ingenuidade esperar que algo dessa natureza possa avançar no Legislativo a menos de um ano e meio das eleições. Entretanto, ponderava que o calendário eleitoral não é um impeditivo para a construção de uma agenda para o futuro do País.

A criação de uma comissão na Câmara Federal, já havia sido noticiada pelo portal da VEJA em 21 de maio.

A matéria informa que, de acordo com o presidente da Câmara Hugo Motta, será criado, naquela casa, nesta semana, um grupo de trabalho para debater o tema e construir um texto em 45 dias.

Segundo o líder do governo José Guimarães, o presidente Lula e a ministra da Gestão estavam a par.

Notícia publicada no site da Agência Brasil, em 20 de outubro de 2024, informava que o Governo Federal pretendia fazer uma ampla reforma administrativa.

O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, juntamente com a Advocacia Geral da União, criaram uma comissão. A comissão era formada por mais de uma dezena de especialistas, entre juristas, servidores públicos, pesquisadores e acadêmicos.

O grupo tinha até abril de 2025- doze meses após sua instalação-, para elaborar a proposta de revisão do decreto-lei. Até onde estou informado, esta proposta não foi formulada.

No livro A HISTÓRIA REAL, escrito em 1994, dos jornalistas Gilberto Dimenstein(falecido) e Josias de Souza, durante a elaboração da Medida Provisória que que criou a URV, surgiu um impasse ao seu final. O então Ministro do Trabalho Walter Barelli, insistia que o valor do salário mínimo fosse aumentado para cem dólares. Sérgio Cutolo, Ministro da Previdência, em defesa do então Ministro da Fazenda, Henrique Cardoso, disse que a proposta quebraria a Previdência. O ministro Barelli, por não concordar ameaçou pedir demissão. FHC propôs uma saída honrosa para Barelli, a formação de uma comissão para debater formas de elevação do mínimo. Segundo os jornalistas, na burocracia de Brasília, a constituição de comissão é a melhor forma de postergar a solução de um problema.

A necessidade de uma Reforma Administrativa mencionada pelo presidente de Câmara, Hugo Motta, não é nenhuma novidade. Há muito, já se tem dito que ela é imprescindível.

Não indo muito longe, citaremos publicação, da estrategista de Investimentos da XP, Rachel de Sá, em maio de 2021, no portal da empresa.

Segundo ela, o Brasil é um dos países do mundo com maiores gastos com folha de pagamentos de servidores públicos, ativos e inativos, como proporção do PIB. Conforme levantamento realizado , à época,  pelo Tesouro Nacional, figurávamos na sétima posição global em termos de remuneração dos servidores (em uma relação de 74 países), à frente de emergentes como Chile, Peru e Colômbia, além de desenvolvidos como Alemanha e EUA. Os dados consideram gastos não apenas com salários, mas também com a contribuição patronal para a Previdência dos servidores.

Ainda, segundo a estrategista da XP, levantamento similar realizado pelo Banco Mundial também chama atenção para o fato de o Brasil exceder seus pares regionais e emergentes no que tange ao gasto com servidores, além de ter ultrapassado os níveis observados em países que figuravam na dianteira global, como França e Portugal, diante do aumento dessa despesa no país na última década.

Prosseguindo, menciona que o crescimento dos gastos obrigatórios com a folha de pagamentos acaba espremendo o espaço de outras áreas, como programas sociais e investimento. Por anos, isso foi resolvido aumentando impostos ou aumentando dívida. Essa estratégia aumentou o sobrepeso do estado brasileiro, reduzindo seu crescimento potencial.

Recentemente, em 30 de maio, o G1, divulgou as opiniões dos economistas Sérgio Valle e Mauro Rochlin, sobre a proposta do Governo em elevar o imposto.

Em síntese, opinaram que o aumento do IOF não vai solucionar o problema. É necessário que o Governo olhe com mais atenção a estrutura de gastos e arrecadação. Que se adotem medidas mais estruturais, que no médio e longo prazo ajudem, pelo menos, a estabilizar a dívida pública. Daqui prá frente, o problema só tende a piorar.

Se a Reforma Administrativa é fundamental, porque ela nunca foi feita, inclusive por outros governos?

Uma reforma que pretenda corrigir, de fato, as imperfeições hoje existentes, deve contemplar a modernização da gestão pública, eficiência de seus serviços, correta gestão de recurso humanos e adaptação às mudanças tecnológicas.

Isto, obviamente, resultaria em adoção de medidas impopulares que não convém, principalmente à classe política, em qualquer época.

Por tudo isto, fica  difícil acreditar que o grupo de trabalho criado pelo presidente da Câmara dos Deputados prospere. Que isto seja, de fato, desejo de um governo que tem 53% de reprovação e, deseja se reeleger.

Gerson Tavares de Nader